É, amiga...


...Estamos ficando velhas! Tudo está mudando... Creio que como sempre aconteceu, mas as mudanças agora são maiores... Vai ver que é por isso que sentimos mais.
Ambas sabemos, dentre tantas coisas, que somos péssimas em encerrar ciclos. Somos imprestáveis nesse assunto. Embora agora tudo vá ser diferente sem você morando a 4km da minha casa, a gente sabe que estava na hora de você começar um novo momento da sua vida. Sempre apoiamos os planos uma da outra... Até aqueles que a gente sabia que não ia dar certo... Mas era muito simples: “Vai, se der merda, estou aqui.”. E eu não poderia ser egoísta o bastante para não te apoiar nessa nova jornada. Porque acho que é isso que os amigos fazem, né?! Apoiam, não julgam, respeitam e garantem que sempre estarão lá... E isso é mais que uma certeza.
Nossa amizade é muito atípica, não existem “tradicionalidades”... Nestes anos todos se tivermos três fotos juntas é muito, você gosta de sertanejo e eu de tudo, menos isso... Nossas baladas eram sempre diferentes, nossas turminhas também, eu nunca ia nos churrascos na sua casa, eu odiava jogar truco, demoramos pra saber os nomes das nossas mães... Você era mais inconsequente, e hoje em dia a criançona sou eu.
Dividimos tanta coisa, amiga... Crescemos juntas, você era rosa e eu era preto... Acompanhamos as fases uma da outra e de um jeito que não dá pra explicar sempre as respeitamos. E isso não dá pra entender, já que tolerância nunca foi um ponto forte nosso. Muitas pessoas passaram por nós, amores e amigos, e nós sempre fomos testemunhas e cúmplices uma da vida da outra. Faltavam noitadas, mas nunca conversas, risadas e lágrimas,-as quais sempre fizemos questão de engolir, não porque não confiávamos, mas porque sabíamos que nos sentiríamos melhor desenterrando os cadáveres do quintal nas nossas longas conversas. E jamais abrimos mão do “rolêzinho” nos dias de tédio e pra colocar o papo em dia. Não importa se não nos víamos toda semana, mas sabíamos que bastávamos precisar e a outra estaria lá.
Passamos pelos cabelos diferentes, pelos comportamentos revoltados da adolescência, pelos trabalhos diferentes, pelo aparelho ortodôntico, o primeiro amor, a carta de motorista, os primeiros amassos, os maiores e menores segredos... Nem sempre dividíamos o drink, mas sempre o cigarro... E tenho o maior orgulho de ter sido a primeira a saber da sua fase que vai durar para sempre: a de ser mãe!
Quanta coisa! Nossas incertezas, as fofocas, os sonhos, o medo de ser menos, o querer ser mais, as fugas, os êxitos e as involuções... Os erros repetidos, os papos-de-menina, as vontades e as pisadas na bola... E íamos sondar a vida alheia que nos interessava! Sabíamos que nunca seríamos julgadas pela outra. E isso sempre me deu segurança. É pra quem eu não preciso falar muito mas entende tanto... –sobre mim e sobre os outros! Inclusive com quem faço comentários só com o olhar sobre as pessoas que estão presentes!
 Perto de quem a palavra “sinceridade” faz todo sentido... Afinal, não faltaram tapas na cara pelas verdades ditas que ninguém mais queria nos dizer.
Conhecemos nossos limites e limitações e sempre os aceitamos... E os defeitos?! Ah, como são chatos... Sua pressa, minha enrolação, o seu “agora” e o meu “depois”, eu quero ir ali e você lá, minha frescura pra comer em qualquer lugar, sua compulsão por cerveja e minha preferência por uísque...! E nós duas sempre soubemos que podemos ser insuportáveis se quisermos...!
Amiga... Não, não... Irmã... A irmã que adotei há muitos anos e nenhuma distância mudará isso. Você estará sempre, como sempre, em minhas preces, e agora, é claro, no meu roteiro de férias...!

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